Cadeira nº 11: Ferreira de Rezende


 Fotografia cedida por Ana Luzia de Rezende


FRANCISCO DE PAULA FERREIRA DE REZENDE


José Luiz Machado Rodrigues



Francisco de Paula Ferreira de Rezende nasceu a 18.02.1832 e viveu na cidade de Campanha, no sul de Minas Gerais. Filho do Coronel Valério Ribeiro de Rezende e de Francisca de Paula Ferreira de Rezende. Foi batizado em 20 de abril do mesmo ano pelo Cônego João Dias de Quadros Aranha, tendo sido seus padrinhos, conforme o costume da época, os avós que ainda estavam vivos, o Comendador Francisco de Paula Ferreira Lopes (avô materno) e Francisca de Paula Galdina de Rezende (avó Paterna). Seu pai foi coletor, comerciante, fazendeiro e juiz de paz naquela cidade. Na fazenda Bom Jardim, propriedade de seu avô, distante três léguas do centro de Campanha, viveu boa parte da infância. Ali conheceu e conviveu com os políticos do seu tempo, principalmente, Diogo Antônio Feijó.

Ao apresentar-se em seu livro Minhas Recordações, Rezende diz: "Filho, neto e bisneto de mineiros, eu quase que poderia dizer que nunca saí de Minas; pois que a não ser o tempo apenas que estudei em São Paulo e o de algumas viagens, poucas e muito rápidas, que tenho feito à Corte, nunca tive realmente outra morada que não fosse no seio desta terra em que nasci, cujas idéias e sentimentos assimilei com o leite, com o ar e com os anos; e pela qual, por isso mesmo talvez, é tão grande e é tão sem cálculo o amor que sinto, quanto é grande e quanto é sério o orgulho que ela me inspira".
A esta apresentação acrescentaria a informação, para mim relevante, de que durante mais da metade desse tempo vivido em terras mineiras Rezende morou na cidade de Leopoldina. Foram exatos 31 anos, desde a chegada em 1861 até a sua partida para a capital da República, em 1892, para servir ao país como Ministro do Supremo Tribunal Federal.
Em 1849, aos dezessete anos de idade, carregando as suas primeiras idéias republicanas, ele partiu de Campanha para São Paulo com o propósito de matricular-se na Academia de Direito. Ali concluiu o curso de ciências jurídicas e sociais recebendo o grau de bacharel, em 16.11.1855. Nesse curso teve o privilégio de conviver, dentre outros, com seus colegas Américo Brasiliense de Almeida e Melo, Antônio Ferreira Viana, Evaristo Ferreira da Veiga, Francisco Manuel das Chagas (Barão de Itaipu) e Paulino José Soares de Sousa, nomes que marcaram presença na história do Brasil.
Sobre esta viagem para São Paulo ele nos conta, na página 243 do seu livro "Minhas Recordações", o seguinte: "Indo a São Paulo sem quase que nem ao menos saber o que era propriamente um exame, disseram-me que requeresse os que eu queria fazer; eu os requeri; fui para a banca inteiramente a Deus e à ventura. Felizmente, se não sabia, como ainda hoje não sei, o francês com perfeição, eu pelo menos o lia sofrivelmente e o traduzia não muito mal. E quanto ao latim, que naquele tempo já quase que ninguém o sabia senão os mineiros, eu podia me considerar como um totum-quebas naquela língua; pois quando os outros unicamente sabiam os pontos e ainda sabe Deus como, eu era um estudante que havia traduzido o Horácio todo, todo o Vergílio à exceção das Geórgicas, e ainda por cima o Ovídio quase inteiro."
Formado, Rezende regressa à Campanha e assume os cargos de Promotor Público, Curador Geral de Órfãos e Promotor de Capelas e Resíduos. No final do ano seguinte, por decreto de 30.10.1856, é nomeado juiz municipal e de órfãos, em Queluz (atual Conselheiro Lafaiete), Minas Gerais, onde permanece até 1861. Ali acumulou, também, o cargo de Delegado de Polícia e, durante o tempo que exerceu esses cargos públicos, permaneceu alheio à política, por entender que um juiz, ou delegado, não podia e nem devia ter ligações partidárias.
Ocorreu no entanto que nesse ano de 1861, não tendo sido reconduzido ao cargo por injunções políticas, Rezende aborreceu-se com o fato, abandonou a magistratura e empreendeu viagem para São Fidelis (RJ), onde imaginava fixar residência e dedicar-se à advocacia. Após percorrer os caminhos das matas de Mar de Espanha e Senhor Bom Jesus do Rio Pardo (Argirita) veio ter-se em Leopoldina, onde imaginava tão somente pernoitar. Aqui, por mero acaso, encontrou um ex-colega de faculdade em São Paulo, o Bié, Gabriel de Paula Almeida Magalhães, que ouvindo sua história o convidou insistentemente para fixar residência na cidade. Atendeu ao convite do amigo e mais de uma vez confessou nunca ter se arrependido. Estabeleceu-se como advogado e, libertado das amarras morais impostas pelas funções de juiz, voltou à política pelo partido liberal, de oposição à classe dominante.
Em 1865, para apoiar seu irmão Valério, que optara por abandonar o curso de direito para se dedicar à lavoura, adquiriu a antiga fazenda Córrego da Onça que, no dizer dele, "crismou" com o nome de Fazenda Filadélfia, para dar um nome que significasse a verdadeira razão da sua compra, pois fora unicamente por amor a seu irmão que se transformara em fazendeiro e, porque pretendia homenagear a cidade em que se proclamou a primeira das repúblicas americanas.
Permitam-me, aqui, fazer uma pequena digressão para lhes dar a conhecer sobre duas gratas coincidências que, por caminhos diferentes e de forma bem sutil, ligam-me a esta fazenda. A primeira delas é o fato de o Córrego da Onça, que emprestou seu nome à Filadélfia, ter suas principais fontes de abastecimento nas terras onde nasci, no sopé da Serra dos Puris, no bairro da Onça. A segunda é minha satisfação pelo fato de parte das terras e o pouco que ainda resta da antiga sede dessa fazenda pertencer, hoje, a um dos meus irmãos, o José Antonio Machado Rodrigues.
Mas volto ao personagem.
Para contar sobre a vida do fazendeiro Francisco Rezende valho-me inicialmente das palavras do seu filho, Dr. Cássio Barbosa de Rezende, na apresentação do livro "O Brasil e o Acaso ou, Um Bosquejo da Nossa História", 2ª edição, página 5, que bem o retrata ao afirmar: "Meu pai não tinha a menor inclinação para a vida da lavoura e na fazenda mais cuidava de ler e de escrever do que mesmo de visitar as suas plantações. Nos últimos tempos da sua vida, sobretudo, quase não saía mais de dentro de casa, passando os dias e parte das noites metido no seu escritório, inteiramente entregue às suas cogitações históricas e filosóficas, que sempre foram o entretenimento predileto do seu espírito".
E é o próprio Rezende, na abertura do capítulo 53 de "Minhas Recordações" que nos relata, com riqueza de detalhes, este capítulo da sua história: "No ano de 1885 ou exatamente vinte anos depois que eu havia dado a grandiosa cabeçada de me meter a ser fazendeiro, eu havia afinal vencido a grande campanha. Já quase que não devia. A minha fazenda tinha cerca de cem alqueires de terras, sendo uma boa parte em matas virgens. Nela estavam plantados cerca de cento e cinqüenta mil pés de café.... O meu grande desiderato estava enfim alcançado: a educação dos meus filhos estava garantida e se eu morresse, a minha família teria com que passar, senão com luxo, pelo menos ao abrigo das privações. Todo este estado, porém, de uma tão grande prosperidade estava, como de ordinário sucede, destinado a nada mais ser do que uma espécie de visita da saúde ou do que um verdadeiro prenúncio de grandes misérias".
Mas Resende, embora não concordasse com a forma açodada como foi feita a abolição, resignou-se. Adotou, então, uma postura de expectante. E durante algum tempo passou a consumir o que havia economizado, na esperança de encontrar a alternativa que mais conviria adotar naquele momento, para não correr o risco de dar um passo em falso. Assim, somente no ano seguinte foi a Juiz de Fora buscar alguns colonos italianos para cuidarem da sua lavoura, fato sobre o qual comenta, em suas memórias, ter sido muito feliz na escolha dos trabalhadores contratados.
Mas antes de mudar-se para a Filadélfia e tornar-se fazendeiro, Francisco Rezende morou na zona urbana de Leopoldina. Primeiramente num sobrado que, por suas descrições no livro "Minhas Recordações", existia na atual rua Lucas Augusto, um pouco acima do prédio que abriga a Prefeitura. Mais tarde adquiriu uma chácara nas proximidades do Rosário. Dessa chácara, afirma ele, doou uma parte para a municipalidade construir o Cemitério Novo (atual), "no tamanho que julgaram necessário."
Sobre a Leopoldina da época da sua chegada ele nos conta que era uma Vila que, incluindo o bairro da Grama que ficava um pouco distante, possuía não mais que 70 ou 80 casas. Bem próximo dela, na estrada que ligava Tebas ao então arraial do Senhor Bom Jesus do Rio Pardo (Argirita), ele chegou a conhecer um aldeamento de índios. Uma Leopoldina pequena que ele aprendeu a amar e à qual prestou relevantes serviços além dos valiosos registros deixados principalmente em "Minhas Recordações", fonte onde beberam, bebem e beberão, muitos dos historiadores da cidade e de boa parte da terra mineira.
Por mais de uma vez em suas obras, Rezende confessa ser admirador do ideário republicano. Tão apaixonado a ponto de buscar nos grandes republicanos de Roma o nome para os filhos (Cássio, Flamínio e Mânlio) e de mudar o da fazenda adquirida para Filadélfia, como lembrança da primeira república americana. E como se isto não bastasse, era republicano também, porque não concordava com as medidas adotadas pela Coroa.
Escolhido pelos liberais de Leopoldina, ocupou uma das cadeiras da Assembléia Legislativa da província como Deputado Provincial, no biênio 1864/66, cargo que corresponde hoje ao de Deputado Estadual. Com o advento do regime republicano fez parte da comissão encarregada de elaborar a constituição do estado de Minas Gerais em companhia de Joaquim Felício dos Santos e Pedro Augusto Carneiro Lessa, a convite do Congresso Republicano do Estado. Logo depois foi indicado pelo presidente da província para candidato a Deputado Geral, posto que recusou por divergir politicamente de quem o indicava.
Em 21.01.1890 Rezende foi nomeado 3o vice-governador do estado, sendo transferido para 2o vice-governador por decreto de abril do mesmo ano. Nessa época, tendo o Governo Federal consultado a correligionários seus, deputados por Minas, sobre a indicação de um jurisconsulto mineiro, de notável saber jurídico e inegável patriotismo, para ser nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal, seu nome foi unanimemente indicado. Assim, foi ele nomeado para a superior magistratura por decreto de 25.05.1892. No Tribunal, exerceu também a Procuradoria-Geral da República.
Sobre sua passagem pelo meio político ele é categórico ao afirmar em "Minhas Recordações", página 417:"O pouco que cheguei a ver da alta política bem depressa me desencantou de todas essas lutas em que as idéias inteiramente desapareciam para cederem, sem pejo nem lógica, o seu lugar às piores paixões e a um interesse muitas vezes sórdido." E, em razão desta sua decepção com a política, não compareceu à segunda sessão da legislatura, no final de 1866, quando se organizava nova chapa para concorrer ao cargo. A partir de então, recolheu-se aos afazeres domésticos, embora não deixasse de sempre sufragar seu voto nos candidatos republicanos.
Rezende mais de uma vez se confessa um hipocondríaco, melancólico e insociável, o que talvez explique o fato - observado pela historiadora Nilza Cantoni - de raramente seu nome aparecer como padrinho nos batizados, o que seria natural para um homem público de sua época. Razão, ainda, de desconhecer-se o seu círculo de amizades em Leopoldina. Revela-nos, também, que sua vida antes do casamento foi uma série ininterrupta de variados e múltiplos galanteios, nunca lhe passando pelo pensamento uma idéia mais consistente de que pudesse ou devesse casar-se. Isto de forma tão arraigada que, ao vir para Leopoldina, o casamento lhe parecia tão improvável que sua casa, construída numa chácara, mais não era senão algumas pequenas salas e alcovas "onde apenas um homem solteiro que não fosse gordo se podia mover".
Foi um republicano apaixonado e um estudioso que por seu temperamento melancólico e suscetível, suspeitava até mesmo do valor dos seus escritos. Considerava-se um fatalista convicto, um econômico por conhecer a necessidade e um ser prudente por formação. Austero. Em "O Brasil e o Acaso", página 56, dá mostras do quanto procurava ser justo: "Há de parecer estranho que um republicano e um cético não duvide de se mostrar tão benigno para com os jesuítas. Mas o cético, neste caso, é historiador, e, antes de tudo, sempre amou a verdade. Ora, a verdade é que não só foi o catolicismo quem realmente fez a nossa pátria, mas que nada houve nela até hoje de liberal e de grande, em que à frente não se encontrassem os padres." Rezende era um defensor constante da paz e da ordem. No dizer de seu filho Cássio, "um idealista que os bens materiais nunca seduziram." Octavio Tarquínio de Sousa, no prefácio de "Minhas Recordações" diz que Rezende era curioso, um espírito inquieto, possuidor do dom de interessar-se pela vida e de comunicar-se, qualidades que estariam em contradição com a "misantropia" ou "hipocondria" de que o memorialista por vezes se acusa.
Francisco de Paula Ferreira Rezende era casado com Inácia Luiza Barbosa de Rezende, nascida a 02.05.1846 e falecida a 07.02.1934, filha do Conselheiro e depois Senador Luiz Antonio Barbosa. De seu casamento nasceram sete filhos e três filhas, duas delas falecidas em tenra idade. Dos sobreviventes até aqui apurei que:
- Valério Barbosa de Rezende, nascido a 07.09.1867, era advogado, casou-se com Ana Fonseca de Rezende e teve uma filha de nome Leopoldina;
- Francisca Eugênia Barbosa de Rezende, 09.10.1868;
- Luiz Barbosa de Rezende, 18.06.1870, engenheiro, casado com Carolina de Vicenzi de Rezende;
- Francisco Barbosa de Rezende, 23.10.1878, advogado, ex-Presidente do Conselho Nacional do Trabalho, casado com Maria Eugênia Peixoto de Rezende com quem teve seis filhos;
- Gaspar Barbosa de Rezende, 25.06.1878, médico;
- Cássio Barbosa de Rezende, 28.06.1879, médico, casado com Amanda Machado de Rezende com quem teve três filhos;
- Flamínio Barbosa de Rezende, 27.11.1880, desembargador do Tribunal de Apelação no então Distrito Federal. Foi casado com Ruth de Freitas Rezende e o casal teve uma filha de nome Sílvia; e,
- Mânlio Barbosa de Rezende, 29.06.1884, advogado, casado com Francisca Bueno de Rezende, que também deixou apenas um filho de nome Hélio.
Francisco de Paula Ferrreira de Rezende faleceu, no Rio de Janeiro, no dia 25.10.1893, onde foi sepultado no cemitério de São João Batista, no bairro de Botafogo.

Com relação à obra literária deixada por ele, valendo-se dos textos escritos por seu filho, Dr. Cássio Barbosa de Rezende, pode-se afirmar que, em 1885, Rezende trocou o antigo hábito de ler por um novo, o de escrever. E a esta tarefa, segundo o seu costume, entregou-se com total dedicação. Ora como jornalista, ora como escritor e memorialista. Como jornalista colaborou, dentre outros, com os jornais Correio do Povo, A Ordem (editado em Ouro Preto) e O Estado de Minas Gerais (órgão oficial do estado). Como escritor brindou seus leitores com "Julgamento de Pilatos ou, Jesus perante a razão e os Evangelhos", escrito em 1885 e publicado pela Imprensa Nacional pouco antes da sua morte; "O Brasil e o Acaso ou, Um Bosquejo da Nossa História", escrito em 1890, cuja primeira publicação se deu através de reportagens no jornal O Estado de Minas Gerais, no ano de 1892. Mais tarde esta obra saiu editada pela casa Laemmert e contou, depois, com uma terceira publicação, pela editora A Noite, do Rio de Janeiro, em 1945; "Comentários Bíblicos - O Mosaísmo perante a razão", publicado pela Editora A Noite, em 1944; e, "Minhas Recordações" cuja primeira parte foi escrita no final de 1887 mas só veio a público pela Livraria José Olympio Editora, em 1944.
Julgamento de Pilatos ou, Jesus perante a razão e os Evangelhos no dizer do próprio autor era a melhor de suas obras. Em "Minhas Recordações" afirma: "A minha vida tem sido tão modesta e tem-se passado tão silenciosa que, se porventura o meu nome não morresse de todo e desde logo comigo, eu só o poderia dever a esse meu Julgamento de Pilatos que, se não é, nem poderia ser, uma obra muito notável, me parece, no entanto, que não deixa de encerrar um mérito qualquer."
Mas a história deste livro tem um final triste. Segundo o autor esta obra surgiu a partir do momento que, não tendo nada mais para ler em sua estante, na fazenda Filadélfia, "em desespero de causa, avistei um livro dos Evangelhos e deliberei-me de o ler." Dessa leitura, algum tempo depois surgiu, segundo o Dr. Cássio, "uma obra de pensamento, na qual se patenteia, de modo muito evidente, não somente o grande poder de observação e de análise, de que era dotado o espírito de meu Pai, como ainda, a sua acentuada inclinação para as meditações filosóficas." Mas dela, segundo o mesmo Dr. Cássio, "apenas alguns exemplares foram distribuídos para meia dúzia de velhos amigos de meu pai e para a redação de dois ou três jornais do Estado de Minas." O restante, após a morte do autor, teria sido abandonado no porão da casa onde morava e, posteriormente, destruído sem que o grande público a pudesse conhecer.
O Brasil e o Acaso – Um Bosquejo da nossa História tinha como objetivo estimular o sentimento cívico do brasileiro, mostrando a ele o que já havia de grande e heróico na sua história. Ao mesmo tempo, objetivava conscientizar o povo da conveniência de se manter o país unido e de se apoiar o regime republicano que ele entendia ser o melhor para o Brasil. E é neste livro que pela primeira (ou, uma das primeiras vezes) se escreveu sobre a necessidade do país ocupar o centro-oeste, o que só viria ocorrer efetivamente mais de meio século depois, com a construção de Brasília: "Se queremos realmente que a nossa integridade nacional não corra algum sério perigo, o que antes de tudo nos cumpre fazer é que, sem nenhuma demora e com o maior afinco, tratemos de povoar e de dar a Goiás e Mato Grosso, todos os elementos de força e de vida de que ambos carecem."
Um livro onde o autor faz uma análise geral e filosófica de fatos da história brasileira, suas origens, causas e influências que exerceram sobre a vida do país. E a partir daí analisa os diversos fatos históricos e demonstra terem sido verdadeiras obras do acaso. Como por exemplo:
1) - "Enquanto a independência de todos os outros povos nunca deixou de ser feita à custa de muito sangue e não poucas vezes à custa de dezenas e dezenas de anos das mais terríveis atrocidades, nós fizemos a nossa em um ou dois anos e quase que se poderia dizer que sem sangue e até mesmo sem nenhuma resistência."
2) - "Possuindo a escravidão há mais de três séculos.....suprimi-la seria, pois, como de fato o foi, a pobreza de ricos, a miséria de pobres e o sofrimento maior ou menor de quase todos. Mas o Brasil aboliu a escravidão por entre flores e por toda essa vasta superfície do nosso imenso território, não se ouviu um único brado de resistência e nem sequer da mais leve oposição."
3) - "Filho de idéias monárquicas e criado pela monarquia, durante quase quatro séculos o Brasil se havia sempre conservado monárquico.... Quando viu que, velho e cansado, o imperador já muito pouco ou quase nada governava e que, no entanto, de repente e sem que muito bem se pudesse conhecer o como nem o porquê, outros haviam aparecido que por ele se haviam posto a governar de mais, pede-lhe que, do seu seio se retire com todos os seus, cerca-o na sua retirada de todas as atenções, providencia para que, no estrangeiro, nada lhe pudesse faltar, nem pudesse ele sofrer na sua antiga dignidade e, no meio do mais vivo entusiasmo e ao mesmo tempo, no meio da mais incompreensível e universal harmonia, proclama a república, sem distúrbios, sem sangue, sem reações e, o que muitíssimo ainda mais é, sem rancores nem ódios."
Rezende continua: "Cético, como sou, mas cético na mais genuína acepção da palavra, de nada afirmar ou negar, eu, impressionado com os três fatos (anteriormente citados) comecei a refletir que, se eram tão excepcionais que pareciam ter alguma coisa de milagres, três outros ainda havia que pareciam ter esse caráter ainda muito mais pronunciado. E esses três fatos vinham a ser os seguintes: 1º, que, compreendendo o Brasil quase que a metade da América Meridional, houvesse um mundo assim tão imenso sido colonizado por uma das menores nações do globo; 2º, que, tendo durante mais de três séculos sempre vivido no meio de guerras e de contrariedades de todas as ordens, essa tão pequenina nação o houvesse conservado; 3º, finalmente, que, sem que ainda estivesse convenientemente consolidado, tendo sido de repente esse tão imenso colosso a si mesmo abandonado, unido ainda hoje se conserve." E combinando estes três fatos com os três anteriores conclui: "O acaso havia se mostrado para com o Brasil de uma benevolência constante e sem igual."
Partindo daí Rezende faz uma análise de tudo o que ocorreu com o Brasil desde o seu descobrimento.

Em Comentários Bíblicos – O Mosaísmo Perante a Razão, o assunto não poderia ser outro senão a religião. E numa obra em duas partes o autor oferece ao leitor, na primeira, as suas idéias sobre a origem das religiões, sobre algumas narrativas e episódios dos livros do Gênesis e do Êxodo e, a figura central desses acontecimentos, Moisés. Na segunda parte faz um estudo sobre a transformação da teocracia hebraica.
No dizer do Dr. Cássio, Comentários Bíblicos é uma obra de leitura fácil e até mesmo agradável, onde as idéias são expostas e comentadas em linguagem simples. Nela o autor procura explicar ou interpretar, sempre debaixo de um ponto de vista humano ou racional, passagens obscuras e algumas tidas como milagrosas encontradas na Bíblia.
Minhas Recordações, como o próprio nome diz, é o relato de sua vida. Não a sua autobiografia pura, onde estariam expostos apenas os seus feitos particulares. Ao revés, a obra visa salvar do esquecimento os detalhes dos caminhos pelos quais trilhou, preservando para a posteridade os costumes e tradições do seu tempo, as paisagens e os seres humanos com os quais conviveu. Não deixou de "misturar" fatos da sua vida pessoal, da sua família, da sociedade da época, do mundo político do qual foi figura destacada e da sua condição de advogado e jurista, mas sem esquecer de tudo colocar no contexto histórico em que tais acontecimentos se deram.
Octavio Tarquínio de Sousa, no prefácio da obra diz: "Mas se este livro interessa pelo homem que nos aparece mineiramente numa – tal ou qual autobiografia – impõe-se em primeiro lugar como um documento de excepcional valor acerca da vida social e de família, dos costumes, das tradições, de tudo que é mais característico do Brasil e, particularmente, de Minas Gerais, entre os anos de 1830 e 1890. Muito lúcido, muito atento, de tudo se recordando, tudo anotando, Ferreira de Rezende vai desfiando a história de sua vida, desde os dias da primeira infância, num imenso esforço de reconstituição. E lá do fundo de sua memória e dos menores recantos de seu coração, um mundo inteiro, uma época inteira surge com os seus estilos de vida, com as suas peculiaridades, em flagrantes de instituições, costumes e homens." E finaliza acrescentando: "É autenticamente um documento de homem, de vida e de fatos do Brasil."
É este, caro confrade, leitor e amigo, o Francisco de Paula Ferreira de Rezende que um dia, por puro acaso, encontrei empoeirado e esquecido numa gaveta da história de Leopoldina. Foi desse Rezende que, em junho de 1997, consegui remover um pouco do pó que lhe recobria o nome, com um artigo publicado pelo Jornal Equipe, desta cidade. E é para que ele seja sempre lembrado em nosso meio cultural e desfrute do lugar de destaque que é seu, que continuei minhas pesquisas e cheguei ao ponto atual. Estou consciente de que ainda não terminei a tarefa embora, por outro lado, também esteja certo de que só a divulgação do pesquisado fará com que um maior número de pessoas conheça um pouco mais sobre esse ser humano excepcional, esse fazendeiro diferenciado, político, esse advogado, jurista e Ministro do Supremo respeitado por seus pares e, esse escritor e memorialista tantas vezes citado pelos historiadores da região.
E, para finalizar, resta-me dizer aos confrades da Academia Leopoldinense de Letras e Artes, que foi por tudo isto que optei pelo nome do Dr. Francisco de Paula Ferreira de Rezende para meu patrono.
Muito obrigado
José Luiz Machado Rodrigues – fevereiro de 2009







ASCENDÊNCIA DE FRANCISCO DE PAULA FERREIRA DE REZENDE


Pelo lado materno
Manuel Ferreira Lopes (comerciante em Campanha) casou-se com Maria Eugênia de Jesus (descendente da família Machado de Oliveira, de São Paulo). Desse casal nasceram: - Capitão Antônio Quirino Lopes; - Tenente Manuel Corsino Ferreira Lopes; - Tenente Miguel Ferreira Lopes; - Alferes João Pedro Ferreira Lopes (morreu solteiro); - Major Domingos Ferreira Lopes; e, - Comendador Francisco de Paula Ferreira Lopes (morreu em 1886, aos 94 anos)
Esse Comendador Francisco de Paula Ferreira Lopes casou-se, em primeiras núpcias, com Ana Rita de Cássia de Paiva, com quem teve os filhos: - Dr. Gaspar José Ferreira Lopes (morreu solteiro); - Cap. Francisco de Paula Ferreira Lopes Júnior; - FRANCISCA DE PAULA FERREIRA DE REZENDE; - Bárbara Alexandrina Ferreira Brandão; - Ana Rita de Cássia Ferreira (morreu solteira). Do segundo casamento, com Mariana Generosa Moinhos de Vilhena, nasceram: - Maria do Carmo; - Íria (não deixou descendentes); - Mariana (não deixou descendentes); e, - Maria José.
Pelo lado paterno
O Coronel Severino Ribeiro (foi fazendeiro em Lagoa Dourada e era de família nobre de Lisboa) casou-se com Josefa Maria de Rezende (considerada uma das três irmãs que deram origem aos três grandes troncos mineiros dos Rezende, Carvalho e Junqueira). Desse casal nasceram: - Estevão Ribeiro de Rezende (Marquês de Valença); - Cel. Geraldo Ribeiro de Rezende; - Cel. Severino Eulógio Ribeiro de Rezende; - Cap. Joaquim Fernandes de Rezende; - Ana (não deixou descendentes); - Leonarda; - Maria Clara; e, - Francisca de Paula Galdina de Rezende.
Francisca de Paula Galdina de Rezende casou-se, em primeiras núpcias, com o Alferes Domingos dos Reis e Silva e tiveram os filhos: - Major Estevão Ribeiro de Rezende; - Cel. José dos Reis e Silva Rezende; -TEN. CEL. VALÉRIO RIBEIRO DE REZENDE; - Maria Benedita Teixeira; e, - Urbana Felisbina dos Reis Perdigão. Francisca de Paula Galdina de Rezende ainda casou-se uma segunda vez, com Cap. Antônio Justino Monteiro de Queiroz, nasceram: - Ten. Cel. Antônio Justiniano Monteiro de Queiroz; - Francisco das Chagas de Rezende; - Justiniana; - Ana; e, - Maria do Carmo.
Do casal
TEN. CEL. VALÉRIO RIBEIRO DE REZENDE e FRANCISCA DE PAULA FERREIRA DE REZENDE nasceram e sobreviveram os filhos: - Francisco de Paula Ferreira de Rezende, que se casou com Inácia Luiza Barbosa de Rezende; e, - Valério Ribeiro de Rezende, que faleceu em Leopoldina, em 02.09.1910, ainda solteiro.






OBRAS DO AUTOR - CONSULTADAS



- COMENTÁRIOS BÍBLICOS
O MOSAISMO PERANTE A RAZÃO E A TRANSFORMAÇÃO DA TEOCRACIA HEBRAICA
Com explicação necessária de Cássio Barbosa de Rezende
Empresa A Noite, Rio de Janeiro, 1943

- Minhas Recordações
Coleção Documentos Brasileiros, nº 45
Com prefácio de Octavio Tarquínio de Sousa e,
Introdução de Cássio Barbosa de Rezende
1ª Edição
Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1944.

- O Brasil e o Acaso ou, Um Bosquejo da Nossa História
Com explicação e prefácio de Cássio Barbosa de Rezende
2ª Edição
Editora A Noite, Rio de Janeiro, 1945


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