Cadeira nº 16: Custódio Monteiro Ribeiro Junqueira


Médico

Discurso de posse do acadêmico Paulo Ferreira Garcia.


Senhor Presidente, Senhores Acadêmicos, Senhores e Senhoras que abrilhantam esta solenidade

Na maioria dos discursos lidos nas recepções acadêmicas nota-se a preocupação do recipendiário usar palavras de agradecimento aos que o elegeram. É o que faço agora: muito obrigado, Senhores Acadêmicos Leopoldinenses. Aliás, como vereis a seguir, a gratidão é o tema, o mote, o objetivo maior desta fala.

lngressar na Academia Leopoldinense de Letras e Artes, constituiu, pra mim, um dos momentos maiores de minha já longa vida, pois esta Instituição cuida realçar os maiores vultos que, de alguma forma, contribuíram para o progresso da querida cidade onde nasci, e onde nasceram meus pais e meus avós e duas de minhas filhas. Aqui nasceu, também, meu tio Manuel Funchal Garcia, um dos maiores paisagistas mineiros e Patrono da Cadeira nº 12 desta Casa, ocupada pelo Dr. Antônio Márcio Junqueira Lisboa. E, segundo vários estudiosos de sua história, teria sido fundada por meu trisavô Manoel Antônio de Almeida.

O curriculum vitae que apresentei a esta Augusta Assembleia menciona os principais momentos de minha formação intelectual e profissional. Por isso, julgo desnecessário rememorá-los.

Desejo, apenas, salientar que, como magistrado (atividade desempenhada durante quarenta anos), pautei-me, graças a Deus, em todos os graus de jurisdição, como juiz zeloso, cumpridor dos prazos processuais, íntegro, estudioso e, sobretudo, independente, não admitindo, jamais, qualquer interferência, no desempenho de meus deveres. Nesse mister, algumas vezes, deixei que o coração falasse mais alto que a cabeça, pois sempre entendi que sem a bondade não há justiça.

Como vereis nesta fala, a gratidão é a causa maior que me anima. Por isso, antes de falar sobre a figura de meu Patrono, sinto-me obrigado a manifestar, aqui, a minha eterna gratidão por duas pessoas: primeiro, por meu pai, Silvandino Funchal Garcia, homem honrado, exemplar chefe de família, cidadão dos mais conceituados, dedicado aos pobres e desvalidos, incapaz de odiar até mesmo aqueles que o ofendiam e que soube transmitir-me todas as virtudes de que era portador. Em segundo Iugar, manifesto minha gratidão a meu querido e falecido irmão José, meu segundo pai, a quem muito devo, por me ter amparado financeira e moralmente na minha adolescência e juventude.

Esta solenidade enseja-me oportunidade de falar sobre o grande vulto Ieopoldinense que escolhi para ser meu Patrono: Dr. Custódio Monteiro Ribeiro Junqueira. Essa escolha teve como primeira motivação a gratidão, que é, sem dúvida, um dos mais belos sentimentos humanos. Não fosse a bondade do Dr. Custódio, não poderia eu, filho de família desprovida de recursos financeiros, cursar o Ginásio Leopoldinense, onde iniciei a preparação para a vida profissional.

Estou certo de que todos os consócios, bem como as demais pessoas aqui presentes, já ouviram falar sobre esse Ieopoldinense ilustre. Permito-me, por isso, fazer um Iigeiro resumo de sua gloriosa vida.

O Dr. Custódio, filho de José Ribeiro Junqueira e Antônia Augusta Lobato Monteiro Junqueira, nasceu na Fazenda Nyagara, situada no então distrito de Santa Isabel, atual Abaíba, no dia 25 de Fevereiro de 1875 e, em 1897, aos 22 anos de idade, formou-se pela Faculdade Nacional de Medicina, ocasião em que defendeu tese sobre “Cardiopatias Palustres” e, a seguir, veio clinicar em Leopoldina, onde se casou com Dona Emerenciana Botelho Reis, com quem teve oito filhos a saber: Renato, Haroldo, Graciema (casada com o Dr. Carlos Luz, homem público que exerceu os mais elevados cargos públicos do país, chegando a ocupar a Presidência da República), Heleno (falecido ainda na adolescência), Antônia (conhecida por Mimi), casada com Nilo Colonna dos Santos, Lelé (que seguiu a vocação religiosa) e Lea, casada com o médico Dr. Aleixo Magalhães Lustosa.

Foi homem de várias atividades, todas exercidas com competência e dentro de rigoroso padrão ético. Em companhia de seus irmãos e parentes funda a Companhia Leiteira Leopoldinense. Pouco tempo depois, ainda em companhia de seu irmão José e de seu parente Francisco de Andrade Botelho, funda a Casa Bancaria Ribeiro Junqueira, Irmão e Botelho, posteriormente transformada em Banco Ribeiro Junqueira.

Outros empreendimentos econômicos, inclusive a instalação da Fábrica de Tecido, contaram com a participação do meu Patrono. Quem melhor queira conhecê-los, basta consultar a Edição Especial de “A Gazeta” de agosto de 2009. Teve forte militância política no município e por Iongo período (de 1912 a 1922) exerceu a presidência da Câmara Municipal de Leopoldina.

Neste momento, prefiro focalizar, apenas, uma obra meritória de que participou meu Patrono: a fundação, em 1906, do Ginásio Leopoldinense (hoje Colégio Leopoldinense Prof. Botelho Reis), em companhia de seu irmão José.

O fato de ser um dos fundadores do velho “Ginásio”, bastaria para torná-Io vulto insuperável da cultura e educação nesta cidade. 

Ao que se sabe, o Dr. Custódio, durante 44 anos, exerceu, aqui, a nobilitante profissão de médico, com notável competência e sublime dedicação.

Creio que, de todas as atividades que exerceu durante sua gloriosa existência, a que, no meu entender, o cobre mais de glória e méritos, foi a de médico.

Nesse campo, onde melhor se pode sentir sua generosidade e seu amor ao próximo, permito-me transcrever aqui trechos de um trabalho publicado na Edição Especial da “Gazeta” publicada em Agosto de 1909: era Ieitor assíduo e pela leitura metódica dos melhores autores e das mais acreditadas revistas científicas do mundo, estava sempre atualizado.

A qualquer pessoa que o procurasse, jamais faltou com assistência médica, percorrendo vários quilômetros no lombo das éguas que mandava vir do Sul de Minas para sua montaria. Eram verdadeiras viagens, naquela época, para atender à vasta clientela. A ninguém, nem aos mais últimos, revelava os benefícios pessoais que praticava. Conquistou a primazia da sua classe na região, elevou e dignificou a profissão, em cujo exercício traçou um verdadeiro código de ética profissional, cheio de preciosos ensinamentos. Generoso e nobre, estimulava os novos colegas; animava-os na carreira e aconselhava-os quando solicitado. Passou dois anos na Bélgica. Ao regressar, em 1911, adquiriu e trouxe para a Casa de Caridade Leopoldinense (que teve como primeiro Provedor seu tio Manoel Lobato Monteiro Galvão de São Martinho) aparelhos e material cirúrgico que serviram para montar a primeira sala de operação (hoje Centro Cirúrgico) sendo inaugurada em 1912. Sua formação religiosa Ihe deu a evangélica resignação da moléstia cardíaca da qual era portador.

Em 1938, com a visão de grande empreendedor, Dr. Custódio fundou a primeira “Associação Medica”, Sociedade de Medicina e Cirurgia, da qual foi o primeiro presidente.

Desde criança, em minha casa, sempre ouvi falar da generosidade, competência e dedicação do Dr. Custódio. Era o médico da família e, ao que saiba, jamais cobrou honorários pelas inúmeras vezes em que atendeu a mim e aos meus irmãos.

Sobretudo com relação a este que vos fala, essa foi a verdade. Durante várias semanas estive de cama, atacado por um tipo de paralisia. Tive, então, a assistência permanente do Dr. Custódio. Graças a sua inegável competência e dedicação, e graças ao Senhor Jesus, curei-me radicalmente, não ficando com qualquer sequela.

Creio, Senhores e Senhoras, haver demonstrado que o Dr. Custódio Monteiro Ribeiro Junqueira, verdadeiro apóstolo da medicina, homem de imensa bondade, se faz credor da admiração dos Leopoldinenses e justifica ser Patrono de um Leopoldinense que, com muita honra, acaba de ocupar um Iugar entre vós.

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