Cadeira nº 24: José Ribeiro dos Reis


Zequinha Reis, o mito
Fazendeiro e Industrial


Discurso de posse da acadêmica Glaucia Maria Nascimento Costa de Oliveira

Nasci e vivi desde pequena - exceto por um curto período de tempo, na Rua Marechal Deodoro, na Praça da Bandeira. Lembro-me bem que o nome Praça da Bandeira sempre me intrigou, pois ali não havia nenhuma bandeira. Mais tarde, para minha surpresa, descobri que a Praça da Bandeira já não tinha oficialmente este nome: era Praça Zequinha Reis, mas todos continuavam a nomeá-la pelo nome antigo. Que confusão para a cabeça de uma criança!

Afinal, era Praça da Bandeira ou Praça Zequinha Reis? Descobri que o segundo nome era em homenagem a um ilustre da cidade, mas isso não me convenceu. Quem era esse tal que mudou o nome da praça? A praça da minha infância?

Pois bem, ao ser convidada para assumir uma cadeira nesta academia nem titubeei: meu patrono seria o Zequinha Reis, afinal ele assombrou boa parte de minha infância e agora já sabia o quão importante ele tinha sido para a cidade. Já era hora de conhecê-lo mais profundamente.

Mas onde encontrar dados sobre ele? Fui atrás da família e fui muito bem recebida por todos. A neta, Carla, me emprestou o material impresso de que dispunha para minha pesquisa. Aí só precisava de leitura e inspiração para produzir.

Após algumas pesquisas, descobri um Zequinha inquieto e que sempre fora uma pessoa à frente de seu tempo: estudou, algo não muito comum em sua época; empreendeu, para pessoas de coragem; sonhou, com uma cidade melhor para seu povo; e, por fim, realizou, proporcionando um avanço para seu tempo.

José Ribeiro dos Reis – Zequinha Reis, como era carinhosamente chamado por todos – nasceu em 30 de abril de 1899, no hoje município de Estrela Dalva. Era filho do Coronel Antonio Ribeiro dos Reis e de Dona Guilhermina Andrade Reis.

Zequinha iniciou seus estudos em Estrela Dalva, passou pelo Ginásio Leopoldinense – importante colégio de Leopoldina que abrigou grandes nomes de nossa história – e pela Academia de Comércio de Juiz de Fora – instituição ainda renomada que desde a fundação tem como princípio o sonho do Santo Arnaldo Janssen “de preparar os alunos para atuarem no mundo como cidadãos íntegros, futuros profissionais competentes e agentes transformadores da realidade contemporânea em um mundo melhor, ou seja, verdadeiros “missionários” do reino da justiça e da fraternidade”. Acho que essa sementinha ficou plantada em Zequinha, pois ele conseguiu realizar muito desse sonho. Após, concluiu o Curso Técnico de Comércio, no Colégio Luso Brasileiro de Petrópolis.

Após o curso em Petrópolis, iniciou sua vida profissional na Casa Bancária Ribeiro Junqueira & Irmãos Botelho. Ficou aí por um curto período, pois foi para Miraí ajudar o pai na administração da Fazenda Miracatu – importante produtora de café na região.

Casou-se em 30 de abril de 1922 com a D. Maria Helena Junqueira Reis e foi morar na Fazenda Araribá, no distrito de Providência. A família foi grande, como era costume da época. Tiveram treze filhos: Sebastião Paulo, Maria Heloísa, Nilza, José Carlos, Gabriel Antônio, Darcílio, Bruno, Ronaldo, Maria do Rosário, Maria Regina, Celina Maria, Helena Maria e Maria Eugênia. Uma curiosidade: 30 de abril era também o aniversário de Zequinha e de Maria Helena.

Em 1925, juntamente com um grupo, fundou a Cia. Fiação e Tecidos Leopoldinense. Gabriel de Andrade Botelho, Ormeo Junqueira Botelho e José Ribeiro dos Reis constituíram a primeira diretoria da fábrica. Zequinha sempre exerceu o cargo de Diretor Superintendente e, juntamente com Ormeu, se dedicou de corpo e alma a essa indústria. Gabriel era o presidente. No início foram instalados 2.800 fusos e 100 teares para a produção de ‘algodãozinho’. Mais tarde adquiriram uma fábrica de Vitória/ES para ampliação das instalações e conseguiram construir 250 casas para os funcionários.

Após o término da Segunda Guerra Mundial, em 1945, a fábrica foi ampliada e automatizada. Em 1968, a companhia tinha 20.000 fusos e 600 teares. Apesar do sólido crédito e da compreensão dos operários, a crise que afetou a indústria têxtil foi implacável. Em 1971, a empresa fechou suas portas.

A ideia da fundação da fábrica de tecidos foi do Dr. José Monteiro Ribeiro Junqueira, com o intuito de promover o desenvolvimento da cidade de Leopoldina, proporcionando trabalho para a população. Mas, foi Zequinha que se destacou à frente da fábrica como um eficiente industrial.

Esta fábrica representa um marco na história da cidade. Dali, muitas famílias retiraram o sustento para criar sua família, enfim, construíram a sua história e a história da cidade. Com todas as pessoas com as quais conversamos e que foram funcionárias da fábrica, notamos uma ponta de saudade e carinho por tudo o que ali viveram. A presença do ‘dono’ no meio deles, uma pessoa sempre acessível e comprometida com a qualidade de vida de todos, era o diferencial do “Seu Zequinha”. No entorno das instalações da fábrica – que fica imponente no coração da cidade -, ele construiu moradias para seus funcionários, pois acreditava que assim teria mais qualidade – de vida e de rendimento no trabalho. A importância econômica dessa fábrica para a cidade é inquestionável. Em quase todas as famílias de Leopoldina, há alguém que por lá passou.

Zequinha era, também, um apaixonado pelo ramo agropecuário. Em 1927, juntamente com Antônio – seu irmão, adquiriu a Fazenda Pedra Branca, em Volta Grande. Dedicaram-se aí a melhorar o rebanho da raça holandesa.

Sua paixão pela agropecuária alcançou altos voos após este início e foi reconhecido nacionalmente por suas atividades. Zequinha foi um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento da pecuária leiteira no município e teve também forte influência nessa desenvolvimento no estado de Minas Gerais, dentre outros. Ele foi o primeiro sócio da Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa dessa região.

Em 1936, organizou a primeira Exposição Regional de Leopoldina, inaugurada em 20 de junho. Uniu-se para isso a um grupo de fazendeiros, incluindo o então Prefeito Municipal Francisco Andrade Bastos. Para Zequinha, a Exposição deveria se tornar um encontro anual e realmente acabou se transformando numa festa renomada e muito esperada na cidade até hoje. O lançamento da pedra fundamental da construção do “Parque de Exposições José Ribeiro dos Reis” ocorreu em 12 de outubro de 1937. Esse local é um importante espaço de eventos na cidade de Leopoldina.

Logo em seguida, com outros 25 pecuaristas, fundou a Associação Rural de Leopoldina. Foi seu dirigente por 10 anos (1936-1947), quando saiu para assumir a Prefeitura da Cidade. Em 1968, a Associação passou a se chamar Cooperativa Agropecuária Região Leste de Minas Gerais e é, até hoje, uma importante organização na cidade.

Como Prefeito Municipal de Leopoldina, Zequinha exerceu dois mandatos: 1948 a 1951 e 1955 a 1959. No manifesto de apresentação do projeto de lei para que o nome de José Ribeiro dos Reis fosse homenageado em um logradouro público, consta que Zequinha em suas duas legislaturas exerceu de maneira brilhante suas funções e demonstrou seu amor por esta terra com coragem, seriedade e abnegação.

Foi, assim, uma justa homenagem a troca do nome de Praça da Bandeira para Praça Zequinha Reis. Essa praça foi uma obra iniciada por ele nas proximidades das casas de seus operários e servia como local de lazer para a população da época.

Para todas as pessoas que o conheceram, Zequinha ainda é só elogios. Um homem bom, justo, digno, empreendedor e caridoso. Uma pessoa digna de respeito e admiração, “que viveu e se entregou aos apelos desta comunidade”.

Zequinha era um líder nato e nunca deixou de exercitar essa qualidade, seja na sociedade, seja na política. Grande conhecedor das necessidades do campo e da cidade, sempre lutou pelo desenvolvimento do município.

Para finalizar, repito a inscrição que consta na placa na Praça Zequinha Reis: “o trabalho de um líder é eterno, o seu espírito resiste ao tempo”.

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