Cadeira nº 2: Miguel Torga


Médico e Poeta
Fotografia in: ROCHA, Clara. Fotobiografia. Lisboa: Dom Quixote, 2000. p. 75

 "Para além de grande escritor e de inspiradíssimo poeta, Torga foi um homem de fortes convicções, sempre presente e solidário no que considerava os grandes combates cívicos necessários à consolidação de uma democracia pluralista no nosso País, que pensava com uma lucidez raríssima e que, para ele, devia ter uma indispensável dimensão social e humana[...] " Mário Soares ex presidente de Portugal


"Numa madrugada de Outubro, meu Pai acordou-me:
- Filho, ergue-te, que são horas. Já vem o romper do dia.
Era a minha partida para o Brasil."
[O Segundo Dia]


 “ Eu amo a medicina. Amo o que há de absoluto em cada Vida. A doença é um estado absoluto. Perto da morte. A cada vez um desafio de arrancar o doente do sofrimento, da morte. É a mesma coisa  com a literatura. Luto com as palavras como luto com a morte.”
[Entrevista ao Jornal Libération em 11/2/1988]


"São Martinho de Anta não é um lugar onde, mas um lugar de onde..."[Diário, vol. XI]


Minha terra,

Meu povo,

Que sempre vos amei,

Que sempre vos cantei,

E que nunca jurei

O vosso nome em vão.

 

Minha terra,

Meu povo,

Dizei-me nesta hora de agonia

Que essa fidelidade

Desafia

Quem à sombra da noite e à luz do dia

Negue no mundo a vossa eternidade.

[Diário XII, p. 180.]

TORGA E OS ARTISTA QUE AMAVA


Portinari (reprodução de detalhe do “Café”, um trabalhador carregando uma saca de café- referência na crônica do David Nasser)

Picasso “Guernica”( MT se manifestou sobre a guerra civil na Espanha, o bombardeio de Guernica pelos fascistas,  livro que o levou à prisão)

Ai, PALAVRAS, ai, palavras,
que estranha potência a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras,
sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!
 Cecília Meireles   Das palavras aéreas  -Romanceiro da Inconfidência

Castilla enjuta, donde fieles me aguardan los abrazos de costumbre, que el hombre no disfruta de libertad si no es preso en los lazos de amor, compañero de la ruta.
Miguel de Unamuno,  poeta espanhol   “De vuelta a casa” 

Sozinho no escuro
qual bicho- do- mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
 “Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida.
Mundo mundo vasto mundo, 
se eu me chamasse raimundo
seria uma rima, não seria solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.”
Carlos Drummond de Andrade


“Ah, todo cais é uma saudade de pedra!”
Fernando Pessoa - Ode Marítima 
 ( atrás do texto o mar e caravela ou só o mar)
 “ No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
e a alegria de todos, e a minha,estava certa como uma religião qualquer
[...]
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu deus, meu deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me os dia.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!,..”
Fernando Pessoa 


[...]“Rua da União...
Como eram lindos os nomes da ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se chame do dr Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a rua da Saudade...
...onde se ia fumar escondido
Do lado de lá era o cais da Aurora...
...onde se ia pescar escondido
Capiberibe
_ Capibaribe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho
Fiquei parado o coração batendo
Ela se riu
Foi meu primeiro alumbramento.”[...]
Manuel Bandeira











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