João Barroso Pereira Júnior, filho caçula de João Barroso Pereira e Carolina
Barroso Pereira, nasceu no ano de 1903, em Queluz, primeira cidade paulista
para quem sai do Estado do Rio de Janeiro, para entrar no Estado de São Paulo,
seja por rodovia, seja por ferrovia. À época em que ele nasceu, a comunicação
entre as duas capitais era feita por estrada de ferro (no caso, a estatal
Central do Brasil) e por estrada de rodagem, de terra (a antiga Rio-São Paulo)
que, passando por Bananal, na divisa dos dois estados, chegava ao Rio de
Janeiro, então capital do país, pelo antigo caminho, já nos bairros cariocas
denominados Realengo, Santa Cruz etc., até chegar ao centro da capital
brasileira. Na sua movimentada vida, ligada às artes, literatura, ensino,
magistério e educação, veio a falecer em Leopoldina, MG, onde residia, na data
de 04 de janeiro de 1963, com 60 anos. Foi casado com Maria Aparecida de
Azevedo Barroso, pertencente a antiga e tradicional família leopoldinense e
teve três filhas, Eleonora Beatriz (já falecida), Gloria Maria, nossa colega
desta Academia e Estela Natalina, a caçula, residente no Rio de Janeiro. Era
conhecido também como Barroso Júnior – como narra o tabloide “Leopoldina – 155
anos de História”, jornal especialmente publicado em comemoração ao 155º
aniversário da cidade, em 27 de abril de 2009. “Educado “desde criança, em
colégios de padres adquiriu sentimentos de moral e religiosidade cristã,
desfrutando de estima e consideração de todos que o conheciam”. Diz o jornal
que sua vida e sua dedicação às causas sociais, não ficaram, entretanto,
restritas exclusivamente aos preceitos da religião católica: “no seio da
família, nas reuniões sociais, nos meios literários, sempre baseado na moral
teológica fazia-se admirado pela sua jovialidade, pela sua inteligência, quer
palestrando, quer através de produções literárias e históricas”. Acrescenta o
tabloide comemorativo que, como jornalista e historiador, “o passado o
envolvia, quando o passado era evocado em todos os seus acontecimentos dignos
de registro”.
O pai, João Barroso Pereira, nascido em Portugal, fora aluno do Seminário de
Braga, nordeste do país, desistindo de seguir a carreira religiosa, porque não
sentia vocação suficiente para assumir tão sério compromisso, como o resultante
das vestes talares. O exemplo, porém, do pai e do desejo que fosse o filho -
chamado pelos parentes de “Joãozinho” (o pai também era João) – o continuador
da vontade de ter um padre na família, fez com que Barroso Júnior seguisse,
também, a carreira sacerdotal. Matriculado no Seminário de Lavrinhas (município
de Lorena, SP, diocese de Taubaté, SP), ali adquiriu conhecimentos, cultura,
formação e informação, fundamentando sua vocação futura, que se manifestaria,
então na sua base intelectual. Já mostrava aí preocupação crescente com os
problemas do ensino, nos seus vários campos, em aspectos até então relegados
pelas autoridades dessa área, de importância social e estratégica para o país.
Prestando concurso
para o Ministério da Educação, no Rio de Janeiro e tendo sido aprovado, foi
admitido como Técnico de Educação, quando – então – teve oportunidade de
ampliar conhecimentos e aprofundar seus estudos nessa área vital para o país e
ainda hoje, tratado como assunto de segunda ordem. Ligado às coisas de livros e
literatura, foi designado pelo Ministro da Educação para prestar serviços à
Biblioteca Pública Municipal de Leopoldina, que teve grande apoio seu, para a
respectiva fundação e funcionamento.
No começo da década
de 40, já vocacionado para o ensino adquiriu, em Visconde do Rio Branco, o
Ginásio Rio Branco que, na oportunidade, lutava com dificuldades para
sobreviver, em se tratando de iniciativa particular. E ali revelou-se o
profissional de ensino ousado, inovador, voltado para novos aspectos do ensino,
imprimindo sua marca pessoal nas iniciativas que tomou, com o objetivo de obter
um ensino de qualidade.
Logo de início
criou um internato para acolher alunos de fora de Visconde do Rio Branco, de
modo que eles pudessem usar instalações da própria escola para hospedar-se e
estudar em tempo praticamente integral, com apoio da equipe que montou.
Pessoalmente, fiz parte dessa equipe porque, à época, tinha perdido meu emprego
no Rio de Janeiro, onde havia sido admitido como redator de uma revista que se
publicava na década de 40. Chamava-se “Vida Doméstica” e, guardadas as
proporções, era “O Cruzeiro” desse tempo, com grande tiragem e circulação por
todo o país. Seu fundador e principal proprietário, Jésus Gonçalves Fidalgo,
espanhol, tinha um critério especial para fazer a revista, juntando na mesma
edição, receitas culinárias, moda, contos e...- “o pulo do gato” – fotos de
aniversários, batizados, casamentos e acontecimentos sociais, de modo geral.
Por que? Jésus me disse que, como a revista tinha um preço mais ou menos alto,
acima da média, se cada pessoa cujas fossem fotos publicadas, comprasse vários
exemplares – o que era costume - traria resultados. E a publicidade pagaria a
tiragem. O resto era, então, puro lucro. E assim cresceu, prosperou, enriqueceu
a família toda. Depois que o dono morreu, seus herdeiros não tiveram métodos
nem capacidade para dar continuidade ao negócio. Eram quatro filhas e um filho.
O filho era um estroina e não tivera (ou não quisera ou não sabia) como gerir a
empresa; as filhas eram casadas com caça-dotes incapazes, desinformados e
alheios aos negócios. E aí a empresa fechou, claro. Exatamente nessa época eu
me profissionalizava como jornalista, tendo obtido o necessário registro
através do Sindicato da categoria, em 1943. Como, porém, por uma questão
trabalhista com a revista, eu perdera o emprego, estava sem ter o que fazer,
até que surgisse nova oportunidade.
De fato, ela
surgiu, no convite que meu tio, Barroso Júnior, me fez para ajudá-lo no Ginásio
Rio Branco, em Visconde do Rio Branco. Aceitei o convite e para lá fui. Tinha
casa, comida, salário e emprego. Dar aula, evidentemente, não era a minha
praia. Mas ajudava na secretaria e no internato e, dentro das possibilidades,
“quebrava o galho” dando aulas de História e Geografia, matérias de que sempre
gostara e tinha razoável conhecimento. Abriu-se exceção para que eu tivesse uma
licença provisória a fim de dar aula, face à inexistência – naquele tempo – de
professores legalmente formados. Eu estava feliz, porque convivia com a família
(meu tio, sua esposa – Cidinha – e as três meninas, minhas primas, uma delas
agora acadêmica da ALLA, a Glória). Mas a veia jornalística acabou prevalecendo
e eu voltei a trabalhar como jornalista – já profissional, registrado – no jornal
“Correio do Vale do Paraíba”, diário que circulava por todas as cidades da
região, antes da explosão de crescimento que tomou conta da vizinha São José
dos Campos, com a Embraer, ali instalada e até hoje em pleno funcionamento,
junto com o ITA (Instituto de Tecnologia Aeronáutica). Aprendi a fazer de tudo
em jornal (redação, revisão, acompanhamento na oficina gráfica e outras coisas
do ramo) e foi bom, porque com essa experiência, quando fui procurar emprego em
São Paulo (Capital), logo achei. E de lá para cá nunca me afastei, completando
(em 2009) 66 anos de jornalismo, o que muito me honra, como profissional da
área e como homem de comunicação.
Enquanto falava a
meu respeito, deixei de lado por uns momentos, de continuar o relato do que
acontecia comigo e com ele também. Enquanto estava em Visconde do Rio Branco,
antes de voltar a Taubaté, (conforme relatado acima), Barroso Jr. fiel à
proposta educacional que assumira, tocava a vida para a frente e criara a
primeira Escola Técnica de Comércio na cidade, pensando na profissionalização
dos jovens riobranquenses que, na época, não tinham oportunidades viáveis e
factíveis de emprego. Coincidentemente, as usinas de açúcar (cinco) que
formavam a grande força econômica do município, começavam a ratear. E na iminência
do seu fechamento, o que ocorreu realmente mais tarde, as pessoas mais
informadas da cidade pensavam em possível alternativa, não só compatível com a
região, mas também com solos e morros. Aos poucos foi surgindo, então, um pólo
industrial, substituindo a cana de açúcar e voltado para a
industrialização de frutas, criando-se primeiramente uma empresa para explorar
a compra de frutas, transformando-as em sucos envasados e hoje comercializados
em todo o país. O objetivo de Barroso Jr., na época era formar mão-de-obra
capaz de atender à demanda desse possível crescimento, que se desenhava no
horizonte econômico, com o fim do ciclo das usinas de açúcar, seja preparando
jovens para atuar nos escritórios respectivos, seja na formação de técnicos de
contabilidade, possíveis futuros contadores. Assim, antes que viessem os
empregos, já haveria mão-de-obra preparada para as atividades que se seguiriam.
Se a tese, em princípio era correta, na prática a coisa não aconteceu
precisamente dessa maneira. Até porque a demanda foi pequena e após a
diplomação dos primeiros técnicos de contabilidade, a escola foi fechada, por
falta de alunos em número suficiente. Ao mesmo tempo, a escola foi
estadualizada, para permitir o acesso geral aos estudos, enquanto mudava de
nome, de local e de objetivos educacionais. Se, de certa forma, o fim principal
foi alcançado, universalizando o ensino e compatibilizando-o com a demanda
reprimida, o resultado final não foi o tão esperado em matéria de emprego
porque o parque industrial que se criava, tinha funções operacionais limitadas
e o número de pessoas contratadas, estava abaixo das necessidades locais de
emprego. Porém, o impacto negativo decorrente do fechamento das usinas de
açúcar e a desativação da cultura da cana, foi amenizado, permitindo outro e
novo surto econômico que, ao final, melhorou ainda mais o PIB (Produto
Industrial Bruto) de Visconde do Rio Branco.
Assim, enquanto
essas coisas aconteciam na área administrativa oficial, por imposição de novo
ordenamento social, político e econômico, os sonhos de Barroso Júnior acabaram
sendo prejudicados por problemas de saúde, que inibiam ou limitavam sua
atividade, desacelerando seu trabalho sempre dinâmico. Sem condições de exercer
as atividades educacionais de que tanto gostava e atacado por problemas de
saúde, Barroso Júnior deixou-se abater e veio a falecer em 1963, há 46 anos.
Escreveu, porém, uma obra pioneira que foi “Leopoldina – os seus primórdios”,
levantamento histórico de episódios relacionados com a nossa cidade, seus
vultos, suas vidas e realizações. Esse trabalho, de investigação, levantamento
e interpretação de sua significação na vida leopoldinense e publicado em 1943
é, até hoje, leitura e consulta obrigatória de pesquisadores para conhecimento
de coisas, fatos e pessoas ligadas à nossa História. Foi escrita com primor e
com palavras poéticas, que evidenciam o amor do autor pela cidade que adotou
como sua para viver e morrer. Para encerrar, passo aqui a palavra final ao meu
tio e patrono para explicar e contar a história pela qual Leopoldina ficou
sendo, afinal, afilhada de São Sebastião, o valoroso militar e guerreiro romano
que preferiu morrer flechado, a trair a fé. A história, segundo “Leopoldina –
os seus primórdios” é a seguinte:
Travava-se uma
discussão para decidir que santo seria o padroeiro de Leopoldina e entre eles,
encontrava-se o alferes Bernardo José da Fonseca, proprietário da Fazenda da
Grama. Participava, também a sra. Maria Luisa, esposa de Francisco Pinheiro
Lacerda e fluminense de Rio Preto. O ambiente da conversa era alarmante porque
se falava de uma peste que atacava a região (o “cólera”). As conversas giravam
em torno da escolha de Santa Luzia ou Santa Rita, quando o alferes Fonseca deu
sua opinião (passo aqui a palavra a Barroso Júnior):
“- Estamos com a
peste por estas bandas. O “cólera” já matou um escravo do Gomes Rodrigues.
Estamos quase com a epidemia em casa. Pois é atalhar o mal, vamos levantar a
capela de São Sebastião
“- Olha primo, a
idéia do compadre. Pois será. É o santo que nos livrará da “fome, peste e
guerra!”
“- Pois é isso
mesmo compadre. Será a Capela de São Sebastião do Feijão Cru. Pois quando as
doenças rumarem para cá, para o Desengano, voltarão desenganadas. Topam com São
Sebastião aí em cima...”
Além dessa obra de
grande importância e que fixa o nome de Barroso Júnior entre os autores
leopoldinenses que mais contribuíram para o conhecimento e informação a
respeito de Leopoldina, quero destacar, com muito carinho, que recebemos dele
também, como outra e valiosa herança, esta nossa querida companheira e colega
que, seguindo as pegadas paternas, relembra e ilustra a história da cidade, que
é a Glória Maria de Azevedo Barroso, minha prima.
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